sábado, 6 de outubro de 2012

Com o mar afogado na boca


Ondula mansamente a tua língua
de saliva tirando
toda a roupa...

já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.


Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?

Oh meu amor...
devagar...
até que eu fique louca!

Depois... não vejas o mar
afogado em minha
boca!



Maria Teresa Horta, Gozo IX, in As Tormentas
 




*










* sabe a sensação de mergulhar no mar aberto? quando não se faz ideia do quão fundo está? quando a profundidade abaixo parece sem fim feito o céu, acima? a pele inteira tomada de umidade. nenhum vão do corpo escapa da água salgada. um estar-se entregue, simplesmente. a leveza. o desejo de mover-se como um bailarino. de voar até. sede. extenuação. o raciocínio que não se completa, só contempla as coisas como são. as palavras que secam na boca. que só abre para gemer. uma exclamação de prazer... assim é como sinto a poesia de Maria Tereza Horta em mim.

Um comentário:

  1. Não conheço a sensação de mergulhar em mar aberto, mas Maria Teresa Horta é de tirar o fôlego!

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