terça-feira, 30 de outubro de 2012

My Tim Burton's soundtrack selection for Halloween

Tim Burton antes de tudo, é um caprichoso. 

Capricha na escolha dos roteiros e roteristas, na seleção de atores (hi, Johnny!), na direção de arte, na fotografia, na trilha sonora. 

Fui buscar em dois de seus filmes, Sombras da Noite (2012) e Beetlejuice (1988), estas delícias de fazer vibrar qualquer ser, vivente ou não ...


  • Em Sombras da Noite, o vampiro Barnabás (Johnny Depp) arma um baile no suntuoso salão de sua mansão e chama o cantor Alice Cooper, indeed, para fazer as honras aos seus convidados. A cena, toda superlativa, entra em ebulição já nos primeiros acordes do rock de Donovan (1967) - com Jimmy Page na guitarra (ahãm), John Paul Jones nos teclados, Bobby Ray no baixo e "Fast" Eddie Hoh na bateria. Tsá?
  • (as cenas do clipe? do filme alemão, de 1922: Hexen

 
  • Banana Boat é uma canção tradicional jamaicana, usualmente cantada por estivadores noturnos, a fim de aliviar a longa jornada - a melodia e o refrão são repetidos, na forma de pergunta e resposta (tipo marcha de soldados, manja?)
  • foi a partir de 1952, com a gravação de Harry Belafonte, que Day-O, The Banana Boat Song tornou-se mundialmente conhecida e colocou o "calypso" na lista de ritmos feitos pra virar a alma do avesso...
  • (só de ouvir os primeiros acordes já reviro os olhinhos).










* Tim também capricha na poesia infantil: O triste fim do pequeno Menino Ostra é muito apreciado neste lar...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ninguém nunca sabe o que será (mas imagina. e deseja...)




Carlos, sossegue, 
o amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.





Carlos Drummond de Andrade, Não se Mate [primeiro parágrafo]



*




* o tempo, por aqui, anda curto: a vida urge [mas ainda pulsa. e arde]. ** o poema do Drummond segue assim:

"Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Não se mate."

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Maioridade


Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
Ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?

Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?

Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?

Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.

 
Que vou ser quando crescer?

Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.

Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer. 




Carlos Drummond de Andrade, Verbo Ser




*





* não é preciso crescer para ser. crescer é que, muito infelizmente, vai nos diminuindo...

sábado, 6 de outubro de 2012

Com o mar afogado na boca


Ondula mansamente a tua língua
de saliva tirando
toda a roupa...

já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.


Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?

Oh meu amor...
devagar...
até que eu fique louca!

Depois... não vejas o mar
afogado em minha
boca!



Maria Teresa Horta, Gozo IX, in As Tormentas
 




*










* sabe a sensação de mergulhar no mar aberto? quando não se faz ideia do quão fundo está? quando a profundidade abaixo parece sem fim feito o céu, acima? a pele inteira tomada de umidade. nenhum vão do corpo escapa da água salgada. um estar-se entregue, simplesmente. a leveza. o desejo de mover-se como um bailarino. de voar até. sede. extenuação. o raciocínio que não se completa, só contempla as coisas como são. as palavras que secam na boca. que só abre para gemer. uma exclamação de prazer... assim é como sinto a poesia de Maria Tereza Horta em mim.