terça-feira, 4 de setembro de 2012

Saturno c'est moi!


Se um extraterrestre, lá do alto, em sua vigília pelas câmeras do Spaace Home View (o google street view dos ets, for sure) transformasse minha imagem de ontem à noite, no sofá, assistindo o history chanel em gif animado e a publicasse no seu mural do Plasticbooks (o facebook dos ets) instantaneamente conseguiria um meme engraçadinho que garantiria boas risadas por meia hora ou menos.

Meus lábios, estrictos em um perfeito O, um O bem redondo e desenhado. E assim também os dois olhos, as narinas e as orelhas. Três pares de oooooos mais o grandíssimo O que desenhou em minha boca um ovo de avestruz encaixado no ninho com exatidão.

Assim que, assistindo ao history, na sala aqui de casa, com os pijamas que comprei há dois anos, estampado com mini corujinhas - que não são sexies, nem chiques, nem nada, mas foram comprados por menos de 20 dinheirinhos quando custavam algo como 50 - descobri que os anéis de Saturno são feitos de gelo e flutuam no espaço numa órbita certinha e gravitacional em volta do planeta. Que o espaço entre estes, que são muitos mesmo, não é ar, escuridão nem coisa alguma, mas um hiato negro provocado pela força da gravidade de um satélite natural que é exterior ao círculo gelado. E que - rufos de tambor, alongue a exclamação o máximo possível - neste canto escuro e distante do sol da nossa Via Láctea, existe este planeta imenso e gordoto, muito espaçoso e vistoso, com suas centenas de anéis, expelindo continuamente gêiseres de cristais de gelo num fogo de artifício espacial improvável só porque no seu interior há uma fonte de magma fervente que o obriga a um espectáculo vulcânico de repuxo sideral. 

uóóoOOOOh! 




*




*  Conta a mitologia que Urano, o Céu, e Géia, a Terra uniram-se e produziram a primeira raça, os titãs, os deuses da terra, dos quais, Saturno era o mais novo. Contudo, Urano tinha horror à prole, considerava-os feios e imperfeitos por serem feitos de carne. Por este motivo, enterrou-os nas profundezas das trevas para que não ofendessem seus olhos. A mãe, Géia, começou a engendrar uma vingança contra o marido. Arrancou do seio uma pedra áspera, modelando-a numa foice afiada e deu-a ao astuto Saturno para ajudá-la. Saturno, com a foice, cortou os testículos do pai e os atirou no mar. Em seguida, libertou os irmãos e tornou-se soberano da terra. Sob seu longo e paciente reinado, a obra da criação se completou e esse período ficou conhecido como a Era do Ouro, por conta da abundância e da fartura que Saturno presidia. Como deus do Tempo, governou a passagem ordenada das estações - do nascimento e do crescimento, seguidos pela morte, pela gestação e pelo renascimento. É um deus poderoso e ambivalente: conhecido como o "grande ceifeiro" que estabelece os limites onde nem o homem nem a natureza podem penetrar é também o deus da Fertilidade. Com todo seu poder, não consegue aceitar seu destino: ser destronado da mesma maneira que havia destronado o pai. Passou a engolir todos seus filhos, assim que nasciam, para preservar seu reinado. Como rezava a profecia, seu filho mais novo, Zeus, consegue escapar e destronar Saturno, dando origem a era que conhecemos.

Saturno é também conhecido pelo nome de Cronos ou Crono, o deus do Tempo. Aquele que nos ensina a lição do tempo e das limitações da vida mortal. Nada pode ir além do âmbito da própria vida e nada permance inalterado. Uma das facetas mais claras e simples da vida, mas que nos causa tantos sofrimentos, pois é um aprendizado que chega somente com a idade e a experiência. Saturno é um deus que encarna tanto o sentido do tempo como se rebela contra ele. Por isso é destronado e humilhado, devendo aprender com a solitude, o silêncio e a dor. Representa o corpo, pois envelhece de maneira inexorável, ao mesmo tempo que se rebela contra o destino fatal e a descoberta que se está realmente sozinho na vida, a aceitação de sua própria condição: que a juventude cede lugar à maturidade e que jamais poderá ser reconquistada de maneira concreta.

2 comentários:

  1. Não sei o que espanta mais: a narrativa científica ou a mitologia. Um grande O aqui também.
    (A inexorabilidade da passagem do tempo é mesmo coisa de mundinho cruel...)

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  2. O que mais me espanta: há tanto por se espantar. Do útero viemos. Na terra vivemos e pra ela voltamos. Tudo em forma de O para nos lembrarmos como deve ser nossa vida: um eterno espanto.

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