quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E os enamorados? Ridículos!

 
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito. 
Do meu quarto ouço a fuzilaria. 
As amadas torcem-se de gozo. 
Oh quanta matéria para os jornais. 
Desiludidos mas fotografados, 
escreveram cartas explicativas, 
tomaram todas as providências 
para o remorso das amadas. 

Pum pum pum adeus, enjoada. 
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos 
seja no claro céu ou turvo inferno. 

Os médicos estão fazendo a autópsia 
dos desiludidos que se mataram. 
Que grandes corações eles possuíam. 
Vísceras imensas, tripas sentimentais 
e um estômago cheio de poesia... 

Agora vamos para o cemitério 
levar os corpos dos desiludidos 
encaixotados competentemente 
(paixões de primeira e de segunda classe). 

Os desiludidos seguem iludidos, 
sem coração, sem tripas, sem amor. 
Única fortuna, os seus dentes de ouro 
não servirão de lastro financeiro 
e cobertos de terra perderão o brilho 
enquanto as amadas dançarão um samba 
bravo, violento, sobre a tumba deles. 


Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'




*





* assim que, um Carlos sempre puxa outro. (e Fernandinha achou o exato ponto de sarcasmo que o poema pedia). é o que penso e sempre digo: amar demais não enjoa. mas os enamorados e toda a sorte de casaizinhos - que a polícia dos politicamente corretos não me leia - são um porre! toda gente sabe disso.)
** A verdade é que hoje, as minhas memórias de amores (não só de suas cartas, mas de todos os beijos, promessas e dores) é que são ridículas...

2 comentários:

  1. Sarcasmo pouco é bobagem... Muito bom... muito bom também a reforma do blog, ''eu gostí'', como diria o sentimental baby no vídeo da formiguinha. beijos!!!

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