quinta-feira, 1 de março de 2012

Sem ti


Sei quem és, mas falta-me o teu nome - nem
sempre as palavras chegam até aos olhos. Mas
não te importes: há outras coisas que nunca
esquecerei - os meus braços ancorados no teu
corpo, uma cegueira, e o mundo de repente tão
pequeno - e essas, tu não sabes, mas faltam-me
também. O teu rosto, dá-mo por um segundo. A
tua boca, claro. São tantos anos sem ti nos vincos
da minha saia, tanta vida guardada para um dia
assim. Vira-te agora, pois. Deixa cair esse sorriso
dos teus lábios - nos meus há-de deitar-se como
o sol, ao fim da tarde, quando de novo sobre eles
respirares com o perfume salgado das marés. Mas
nada digas do meu corpo cansado - é uma camisa
de verão esquecida numa praia, e a roupa é sempre
o menos, tanto faz. Não vês quem sou? O tempo
não pode ter castigado apenas o meu olhar. Vem
para mais perto e espreita devagar: são tantos anos
sem os teus braços nas mangas do meu vestido,
tanto sangue guardado nas veias para uma noite
assim. E tu já vais?
Maria do Rosário Pedreira

  
  
*
 
 




* deliciada com os cortes, as pausas na respiração e no raciocínio que o ritmo deste poema impõe... suspiro!

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