quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um movimento e uma pausa

"E quando perguntaram a Jesus onde ficava o Reino, ele respondeu:
O Reino está em toda parte, mas ninguém o vê.
É representado por um movimento e uma pausa."

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Este trecho, extraído de um dos evangelhos apócrifos, bem poderia ter saído do I Ching ou do Tao Te Ching, tal similitude com a filosofia oriental.


Um movimento e uma pausa, eis aí a pulsação do universo - como o bater do coração: tum - tum - tum. 

O segredo da harmonia. O processo invariável da continuidade. A eternidade em sua mais profunda intimidade.

Abrir e fechar, contrair e relaxar, agir e descansar, concentrar e dispersar, viver e morrer.

O movimento - pela ativação da energia - absorve e deixa sair; a pausa relaxa, reorganiza e prepara o próximo movimento. Enquanto um lado do coração se esvazia, o outro se enche. Quando uma respiração termina, outra se inicia.

Suavemente. Naturalmente. De tal forma sutil que não se percebe quando passa de um momento para o outro - assim como não percebemos a Terra girar.

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"Em grande parte da cultura ocidental, a morte foi encoberta por vários dogmas e doutrinas até o ponto em que se separou de vez da sua outra metade, a vida. Fomos ensinados, equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos de nossa natureza. Aprendemos que a morte sempre vem acompanhada de mais morte. Isso não é verdade. A morte está sempre no processo de incubar uma vida nova.

No leste da Índia bem como na cultura maia, existe um cuidado na transmissão dos ensinamentos sobre a roda da vida e da morte. Nestas culturas, a Morte é carinhosa, abraça os que já estão morrendo, abrandando sua dor e proporcionando equilíbrio. Diz-se que ela vira o bebê no útero para a posição de cabeça para baixo. E que é ela quem guia as mãos da parteira e que abre o caminho pra o leite nos seios maternos. Para eles, a Morte não é má nem mensageira de dor e tristeza; não é a "ladra" que nos rouba aquilo ou quem mais prezamos - não é Morte o motorista irresponsável que destrói a vida e foge em alta velocidade [percebe a confusão?]. Para estes povos, a Morte faz parte da nossa própria natureza, como um relógio interno que demarca os passos da dança da vida. Uma mestra profunda a quem procuram aprender os ritmos. Assim, ao invés de criticá-la ou temê-la, buscam o conhecimento de seu ciclo completo e respeitam sua generosidade e suas lições.

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Morte e Vida não são opõem, mas representam o lado esquerdo e o direito de um único pensamento."




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* escrito como complemento ao comentário do leitor André, neste outro post aqui.  ** trecho sobre Jesus Cristo (primeira aspas), retirado do livro Deixa Sair, de Sônia Hirsch. as segundas aspas foram compiladas de Mulheres que Correm com os Lobos, da psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés.

Um comentário:

  1. Resposta perfeita... nao me canso de olhar a sequência da última figura, incrível como que em 4 partes tanta coisa é esclarecida e simplificada...
    O incrível aprendizado de olhar as mesmas coisas, só que de um novo ângulo.

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