sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Do mistério, tocamos somente a superfície...


"Como é que se escreve a felicidade? Como explicar a fruição que são as minhas pernas enrodilhadas nas tuas, os teus dedos feito agentes da CIA inflitrados nos meus cabelos, a tua língua a pintar-me a boca a traços grossos? Para quê? Partilhar que a minha pele se ri ao teu toque quente, como se estivesses sempre com febre, sol de verão na penumbra do quarto. Quem quer saber? Do meu corpo sequestrado nos teus braços e dos meus olhos, que rebolam sem saberem para que parede devo atirar e deixar explodir o gozo, que não me cabe mais cá dentro. Como é que descrevo? A impossibilidade teórica desta prática feroz de aprendizes, e as probabilidades disto tudo, que eram de um milhão para um, e que não constavam do meu mapa astral. Como é que transmito? Que me apetece recato e cama, mãos agarradas e vozes baixas, por favor me morda! Sim, como explicar? Que foste sorte, acaso, tiro às cegas, pim pam pum, a álea da vida em todo o seu esplendor, a desdenhar das incompatibilidades cósmicas, dos conselhos de dinheiro, amor e saúde aos nativos do meu signo, das minhas olheiras mastigadas, que imaginavam saber tudo da vida e do amor, mas que nunca souberam nem sequer imaginaram, nem de um, nem do outro. Como explicar? Que as coisas são simples, afinal, e que a dor não passa de um caminho de sentido obrigatório que não dá para atalhar, até um dia chegarmos a quem nos espera desde sempre?"




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* mais uma contribuição luxuosa da portuguesa Sofia Vieira

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