sábado, 30 de abril de 2011

Eu amo sofá!





Se adormecer no sofá fosse modalidade olímpica, certo que eu receberia medalha de ouro!
Não há uma noite que eu falte aos treinos...

...
 
 
* parece que os muitos meses que "badalei" em companhia da Insônia deixaram o Sono com ciúmes - ele voltou a-rra-sando - completamente irresistível! Este 3º lugar, com o sofá amarelo e livros como apoio é um retrato fiel das minhas últimas noites... Ilustração e texto: Ana Oliveira.

Perguntas...



sem respostas...



quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida.

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados.


Vinícius de Moraes

*







*update: em consideração e respeito ao PoetinhaAusência, o poema, na íntegra:

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Too late



É como um gol que acontece depois do juiz apitar o final da partida - já não há o que comemorar. Às vezes a gente torce tanto e espera muito pra que certas coisas aconteçam, mas o encontro que poderia mudar tudo ou a palavra que talvez virasse o jogo perdem a hora de acontecer.
Tarde demais é quando o futuro chega atrasado.


Silvana Tavano

...



* Silvana Tavano é jornalista e escritora infanto-juvenil. São dela os ótimos Como Começa e O lugar das Coisas, além de outros tantos contos, poesias e do blog Diários da Bicicleta, onde sempre encontro belezuras como essas aí de cima. (O Charles não precisa de apresentação, nhé?)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Em qual cabelo perdido posso te chamar de careca?*


Hoje aprendi sobre o Paradoxo Sorites (σωρείτης sōreitēs – grego, significa um montinho). Imagine que você tem um montinho de areia com 2.756.678.345.890.4564.128.345 grãos.
2.756.678.345.890.4564.128.345 grãos formam, sem dúvida, um montinho de areia.
Então, com uma poderosa pinça pega-grão, você tira 1 grão.
O monte de areia deixou de ser um monte de areia? Não.
Você tira mais um grão.
O monte de areia deixou de ser um monte de areia? Não.
E tira outro grão. E outro, e mais outro. E vai tirando.
Um monte de areia não deixa de ser um monte de areia só porque você tirou um grãozinho.
Porém, vai chegar um momento em que sobrarão apenas 2 grãozinhos.
E se você tirar um, o que vai sobrar não tem a mínima cara de um montinho de areia.
O paradoxo existe porque a lógica se sustenta (os gregos, por exemplo, dizem que 1 grão, ou mesmo “grãos negativos”, são um montinho em teoria) mas na vida real, pegando gente na calçada, ninguém chama grão de monte.

A história ilustra o conceito do vago, do impreciso.

Afinal, na base do grão em grão, qual o número mágico em que as coisas trocam de nome?

Se você for arrancando seus fios de cabelo, em qual deles eu posso te chamar de careca?

Adoro implicar com a nossa mania de medições "pseudo-responsáveis" de relatórios, números de impressões, audiência, segmentações, classes, notas escolares. E o paradoxo me incentiva.

  • Em qual centavo você fica rico?
  • Em qual segundo você fica velho?
  • Em qual milímetro você fica longe?
  • Em qual melanina você vira negro? Branco? Amarelo?
  • Em qual cargo você vira alguém?
  • Em qual leucócito você pegou uma infecção?
Muitas medições precisas contêm interpretações imprecisas. E certamente estamos mais preparados e acostumados com a primeira parte dessa equação.
Daí termos inventado o tal "critério". Mas aí, de novo, em qual dos nossos devaneios deixamos de tê-lo?

...



* venho pensando e discutindo e argumentando e lendo e remoendo um monte com 2.756.678.345.890.4564.128.345 questões deste tipo - se uma nota de prova pode avaliar o conhecimento e o progresso pedagógico dos meus filhos; quantos fios de cabelo branco dão a dimensão de minha idade; quantas viagens são necessárias para que se mereça o título de "connaisseur"; e se um leitor apaixonado por uma cidade ou país mas com o supremo azar de nunca ter viajado até seu destino de sonho não se torna mais familiarizado com o ambiente do que o morador comum, tão ensimesmado com sua própria vida que não enxerga o mundo que espalha ao seu redor ou o porque da moça do censo registrar-me como "parda" se meus pais e meus filhos são "brancos" (acho que o que ela quis foi escrever "parva", pois se deu conta que, mesmo minha renda sendo maior do que a do meu marido e a maioria dos bens familiares estarem em meu nome, ainda assim o chefe da casa é ele)... E as infinitas refexões que sugerem a pergunta "Em qual cargo você vira alguém?". Mais um textaço de autoria do Wagner Brenner, que escreve no (uótimo) update or die.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Rain...


  • porque amanheceu chovendo
  • (e quando chove, eu "chovo", conivente)
  • porque adoro este show, com três grandes musicistas - dois brasileiros: o viloloncelista Jaques Morelenbaum e o violinista Everton Nelson
  • porque os cabelos do Sakamoto neste vídeo me hipnotizam: a textura, os fios brancos, o movimento deles enquanto toca o piano e o esconde e revela de olhos, boca e expressão facial
  • (e porque adoraria ter a suprema liberdade de ostentar cabelos assim - fartamente brancos, ostensivamente uma máscara, que mais revela do que esconde...)
  • porque esta música faz com que vejamos a chuva sob outro ponto de vista
  • e arrepia, como a chuva...
...


* Rain está na trilha sonra do filme O último Imperador (The Last Emperor, 1987, dirigido por Bernardo Bertolucci). Mais do RyuichiAqui, outra declaração de amor...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lar...


... é onde mora nosso coração


... e os livros, os meus, os dele, os das crianças, as contas todas já pagas de água, luz, telefone, celular, cartão de crédito e as que faltam pagar, os sapatos, as botas, os chinelos e as pantufas, os cobertores, os travesseiros prediletos e os das visitas, as roupas, os casacos de inverno que só usamos uma vez ao ano (mas não é uma benção tê-los?), os brincos, os lenços que eu mesma já tô acreditando que fui indiana ou sherazade, as embalagens destas delicadezas, tão lindas, tão finas, que dó se desfazer, os shampoos que nenhum deixa meus cabelos iguais ao daquela atriz tão magrinha e drogadita, como pode ter uma cabeleira assim? e os sabonetes e cremes e perfumes bons e raros que só se usa vez ou nunca, também, né, oportunidades, oi?, os guarda-chuvas, as malas esperando viajar, os brinquedos novos e antigos, os cadernos e arquivos do tempo da faculdade, as canetas, as revistas, os tubos de aquarela meio secos, os recortes das revistas, as canecas e copos de cristais desconjuntados, os aparelhos eletrônicos caducos e sem uso (videocassete, acredita? ainda tenho um por aqui), o MP3, a máquina fotográfica, os enfeites de natal e os de páscoa, as agendas de telefones para atualizar, os cartões de visitas de quem mesmo?, os CDs de música, os de fotos, os de filmes, os de cursos, enfim

...


 ...não à toa que o coraçãozito aqui anda meio banzo, sem alento, oprimidaço sob tanta tranqueira.

...
(o que não deixa de ser uma baita contradição, afinal, sempre acreditei que o lar perfeito só requer um teto firme, muitas janelas, uma boa fogueira - fogão serve - mesa com muitas cadeiras e a porta sempre aberta, que é pra facilitar quem entra e quem quer sair... )

...


(com o tempo, fui simplicando [AMÉM] e descartei as muitas certezas para descobrir, orgulhosa, que lar se faz unicamente com um Coração de Mãe - largo, generoso e valente - e que isso, só isso, é o que basta para aquecer, confortar e nutrir qualquer ambiente.) 

...


* quem passar aqui por perto esta semana certamente vai me ouvir entoando o mantra do desapego, da leveza e da claridade. Ilustração: Ana Oliveira.

sábado, 16 de abril de 2011

No peito dos desafinados também bate um coração







#arnaldjenhoootiamuamesmoemsilencio

 





* coelhinho da páscoa bem que podia me trazer o DVD do Arnaldo Antunes "Ao Vivo Lá em Casa"...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A cabala e o princípio da auto-estima *



se tem uma coisa que me conforta dentre os conceitos da cabalinha é o que fala que a única coisa permanente na nossa vida é a mudança.

e eu acabei de voltar da aula de hoje com um outro pensamento a respeito do conceito de autoestima higher.

eu vou explicar bem a-grosso-modo-mente senão vocês não vão ter saco de ler até o fim. é assim: a porção da torá que vibra essa semana se chama Vayicrah e fala sobre "sacrifício". na torá, que foi escrita antes da posição de cagar de cócoras ser inventada, o sacrifício era matar um boi pra atingir a iluminação. pra gente, pessoas civilizadas que vivemos no mundo mundial atual, sacrifício significa olhar para a própria sombra.

a gente só atinge a verdade quando descobre nossa natureza única - e descobrir nossa natureza remove completamente a idéia de supervalorização. não dá para se ter a autoestima muito baixa... nem muito alta. nem higher. nem nada. é pra se ter consciência da sombra e da luz.

e a verdade se expressa, pra cabala, através da beleza. e beleza é, finalizando o raciocínio, equilíbrio (tipo não se achar demais, nem se achar de menos). entenderam como tudo se complementa?

gente, que lindo, matei a auto-estima higher em nome do equilíbrio.

ah! e a morte, o sepulcro, é um dos seis passos do "sacrifício". e o sepulcro que a cabalinha se refere é o sepulcro do (GUESS WHAT!) ego.

§



te amo, rav meir.

...


* texto postado pela finada Dra. Vodca, aka, Adelaide Ivánova, no Bolhas, champanhe, cowboy - Transformation from Power to Superpower

Invenção



O amor é uma invenção, você já deve ter reparado nisso. Uma invenção miúda que passa à margem da vida, embora totalmente necessária. Como são os alfinetes, as linhas e agulhas de costura, ninguém se lembra disso, ninguém vive sem isso. O amor costura, faz bainha de calça, prende botões e ajusta. O que seria de nós sem o amor? Mais solidão, falta do que pensar, sem ter uma saída. O amor é uma saída.

A paixão é uma grande invenção, você já deve ter reparado nisso. E quanto mais inventada mais necessária é. Para tanto existe uma tabela de coincidências, tão urgente à paixão quanto o açúcar aos doces. Vocês são gordos? Coincidência. Descendentes de japoneses? Coincidência. A família imigrou há 200 anos da mesma cidade do Líbano? Coincidência. Gostam da mesma cor? São ruivos? Suas mães têm a letra C no nome? Tiraram as amídalas na infância? Seu filme predileto é estrelado pelo ator que ela mais odeia? Coincidências. Quanto mais coincidência melhor, mais intensa se torna a invenção. Supera obstáculos, cobre vazios e confere energia aos motores flaquitos. O que seria de nós sem a paixão? Puro tédio, noites e noites sem assunto, sem brilho no olhar, sem vontade de sair da cama, para quê? A paixão é isso mesmo, o para quê da vida.

A vida também é uma grande invenção, você já deve ter reparado nisso.


...


 
* do livro, O amor leva a um liquidificador, de Luciana Saddi. Imagem, Toulouse-Lautrec.

Da Série Verdades Indissolúveis: o amolador da vontade


Dizem que a vontade aguça
O sentimento; é verdade.
Mas faz mais
E por isso quem quer há-de
Ir gastando o sentimento
No amolador da vontade.



Fernando Pessoa

Se um homem anda com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve o ritmo de outro tambor



"Um homem é rico na proporção do número de coisas que ele pode se dar ao luxo de prescindir
• A experiência localiza-se nos dedos e na cabeça. O coração não tem experiência
• Cuidado com todas as atividades que requeiram roupas novas
• Benditos os que nunca lêem jornais, porque verão a Natureza e, através dela, Deus
• São necessárias duas pessoas para falar a verdade, uma para falar, e outra para ouvir
• Muitos sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem gastá-lo
• Às vezes faz bem ficar doente
• Nossas invenções são apenas brinquedos bonitinhos, que distraem nossa atenção das coisas sérias
• Fosse outra primavera e eu poderia ser um carteiro no Peru ou um agricultor sul-americano ou um exilado siberiano ou um baleeiro da Groelândia ou um colono à beira do Rio Columbia ou um mercador de Cantão, ou um soldado na Flórida ou um pescador de cavala em Cape Sable ou um Robinson Crusoé no Pacífico ou um navegador silencioso em um dos sete mares. Tão ampla é a escolha das peças, que pena, se a peça de Hamlet ficar de fora
 • Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um filósofo não é apenas ter pensamentos sutis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática".

"Fui para os bosques para viver deliberadamente, para me defrontar apenas com os fatos essenciais da vida, em vez de descobrir, à hora da morte, que não tinha vivido." Thoreau



• "Ao mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações e enganos são considerados como as verdades mais sólidas. Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades e não se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites. Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito a ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas fora. Quando somos calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade, o que é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias. Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade.

• Nada é tão útil ao homem como a resolução de não ter pressa."






*














* lembrei imediatamente de Thoreau enquanto assistia ao vídeo do artista Hélio Leites, personagem urbano de Curitiba, fundador da Assintão – Associação Internacional de Colecionadores de Botão e Papa da Igreja da Graça que, ao contrário da Desgraça, só faz rir. Conheço-o [o Hélio] dos tempos de faculdade. A Henry David Thoreau, só fui apresentada recentemente, no magistral "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild), filme de 2007, dirigido por Sean Penn e com atuação determinante de Emile Hirsch. Foi um encontro de almas! Jamais poderia imaginar que me identificaria tanto com um pensador americano do séc. 19... Finalizando a cadeia de associações - os três, Hélio, Thoreau e o filme - lembram-me John-John, que escolheu viver como uma espécie de Don Quixote destes tempos, um herói predestinado à queda, um tanto antiquado e fragilizado por suas convicções extremadas, mas sempre genuíno na sua busca pela verdade, dono de imensa fortaleza interior e de pureza comoventes... 
** [frase no título, também de H.D. Thoreau].

terça-feira, 12 de abril de 2011

Só porque uma mulher silencia não significa que ela aceita


"Impávida que nem Muhammed Ali,
Apaixonada como Peri,
Tranquila e infalível como Bruce Lee
 
 
 
(E aquilo que se revelará aos povos, surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o... óbvio!" Caetano Veloso, em Um Índio)
 
 
  ...

 
* frase no título: Clarissa Pinkola Estés ("Se você nunca foi chamada de provocadoraimpossível ou incorrigível... tenha fé, querida ... ainda há tempo!").  Um Índio, foi a música que acordou comigo nesta manhã.  

O que é tristeza pra você?

  • nem triste nem tristonho, o artista Hélio Leites, sutilmente, professa uma lição de vida
  • simples, mas feita da mais fina e autêntica sabedoria
  • e revolucionária felicidade!


*









* vídeo que faz parte de uma série de 4 para a divulgação do filme Thomás Tristonho, uma produção brasileira, com direção de André Saito e Cesar Nery, ainda sem previsão de lançamento.
** no início deste blog postei um videozito simples e perfeito como este, que perguntava para as pessoas (em um parque, num domingo com sol) - What makes you happy? Já viu? É inspirador... Vambora ver de novo?

sábado, 9 de abril de 2011

Sob o mesmo sol

"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos", diz o Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas em 1948.

Fisioculturista/Leiteiro

 Caçador de peles/Mulher com cachorro


Mas se todos nascemos iguais (apesar das diferenças genéticas), o que então nos torna tão diferentes?

No cerne desta pergunta nasceu a série Created Equal (Criados Iguais) do fotógrafo Mark Laita, produzida ao longo de oito anos (1999 a 2007). 

Explorando a polarização entre grupos humanos: conservadores e liberais; pobres e ricos; "bons" e os "maus", Laita percebeu que "à medida que crescemos sofremos a influência do meio, da educação, da cultura, da religião. Postas lado a lado, as imagens contrastam nossas diferenças e evidenciam o quanto somos frutos de nossas decisões; nossas e dos outros."

Mais além do que um retrato dos contrastes na terra da liberdade, Created Equal expõe nossas semelhanças, apesar da sociedade, do destino ou das circunstâncias da vida.


Poligâmico/Cafetão

Vegetariano/Açougueiro

Freiras católicas/Prostitutas

Vaqueiro (Cowboy)/Roqueiro

Chef francês/Ajudante de cozinha

Adolescentes Amish/Adolescentes Punks

FuzileiroNaval/Veterano de Guerra

Presidente de empresa/Faxineiro

Modelo de lingerie/Dona de casa em lingerie

  • e não dá para deixar de sorrir com o humor subliminar nas comparações provocadoras e/ou improváveis
  • como se as imagens  buscassem uma outra forma de perguntar: "e daí, você se acha mesmo tão único?"

Bailarina/Caminhoneiro

Barbeiro/Cabeleireiro

...


* para ver mais (tem mais!), o ensaio completo e outros trabalhos do fotógrafo, vale o clique na sua página oficial.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Galinhas felizes



"VAMOS CONTINUAR estudando esse assunto de carnívoros e vegetarianos com muito carinho, bibliografia é o que não nos há de faltar, nem senso comum. Há o risco de se perder o prazer de comer por argumentos que ainda não resolvemos se tem fundamento ou não. Podemos fazer um trato. Durante um certo tempo cada um come o que quer, sem infernar o outro, pois valores mais altos se alevantam. Uns que sigam a cultura e a tradição, outros que façam mudanças drásticas, mas cada um cada um, nada de patrulhamentos numa era tão conturbada.

Um pensador manda comer menos, mais plantas que animais, com prazer. Outro, culpadíssimo, só come plantas até chegar o dia dos bichos bem tratados e bem matados. Tudo isso é senso comum, mas por enquanto não há couve orgânica e galinhas felizes para todos. Vamos fazendo nossa pressão sobre os fornecedores, passem a culpa para eles que já começaram a se sensibilizar e que por sua vez podem pressionar outros.

Não temam o castigo na vida eterna por termos tratado mal nossos semelhantes, as vacas, os porcos, as galinhas. Sempre podemos retrucar com delicadeza a quem nos vier castigar, que nós humanos tão pouco fomos criados todos iguais, todos felizes, pastando com alegria nos campos do Senhor. Temos pestes, sofrimentos, vivemos em poleiros um tanto quanto sem higiene e sem água ou com água demais, dependurados nos morros, em guerras santas. Os que escapam dessa sorte estão na mesma proporção que os orgânicos, são os ricos, pouquíssimos no cômputo geral e que também não escapam do final infeliz. Morrem todos. Está tudo sob controle, os senhores vão melhorando aí, nós vamos tentando o melhor aqui, mas nada de neuras malucas, ou galinhas sendo mortas com anestesia peridural. Devagar com a louça.

Na verdade temos aperfeiçoado loucamente o nosso jeito de matar gente, com mísseis, bombas, gases, claro que podemos aperfeiçoar o de matar animais. Claro.

Confesso que um dia quis ser normal como minha mãe e me preparei para matar uma galinha. Vou me plagiar, porque já contei aqui, há muito tempo. Nenhum remorso ou culpa, bem treinada, dei um pequeno corte de faca afiada no seu pescoço e ela me fez o favor de morrer imediatamente, sem sofrimento e sem um pio. Coisa de segundo. Se eu consegui, as grandes fazendas também vão conseguir na hora que quiserem.

Pensei que matar um bicho faria o mundo revirar, nós ali debruçados sobre a morta. Mas não havia tristeza no coração de ninguém, nem de quem matou nem de quem assistiu. A vida continuava igual numa radiosidade intensa e parada, tudo acontecendo no ramerrão de sempre. O galinheiro, então, tem um desdém enorme pela morte, vieram para perto bicar algumas coisas e pensavam "antes ela do que eu".

Ainda tenho vontade de mudar para aquele sítio onde matei a galinha. Temei, penas, temei! Sozinha, sem relações humanas para administrar, força no coração para matar sem medo e sem perder a ternura, dia após dia, o mar azul, o cheiro de lenha, a chuva criadeira, mas o mais importante é a sozinhez de velha louca, a absorção diária e ínfima da escuridão até alcançar a indiferença feroz das galinhas para com a vida e para com a morte."

...
 
 
* textaço da sempre deliciosa Nina Horta, transcrito tal como saiu na Folha de São Paulo, em 7/4/11 (aliás, já contei que Nina publicou uma carta minha, inteirinha, em sua coluna de quinta, na Folha? Nãããooo? Preciso lembrar de contar - foi A GLÓRIA!)

Para fazer o retrato de um pássaro


Pinta primeiro uma gaiola com a porta aberta
pinta a seguir qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore sem dizeres nada
sem te mexeres...
Às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos antes que se decida
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho com o pincel
depois apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
a poeira do sol
e o ruído dos bichos entre as ervas no calor do verão
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro.

 
Jacques Prévert

La natura è bella





* para meus filhos P. e T. e seu amigo A., que estão aqui, ao meu lado e me pediram pra ver umas fotos bem "massa". E também para meu sobrinho L. (e que a mamãe possa dizer a ele que a "zia" Lu está sempre com ele no pensamento..)

UM DIA


Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável... Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples... Um dia percebemos que o comum não nos atrai... Um dia saberemos que ser sempre o bonzinho não é bom... Um dia perceberemos que a pessoa que te desdenha é a que mais pensa em você... Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..." Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém mas não damos valor a isso... Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você... Enfim, um dia descobrimos que apesar de viver quase 100 anos, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem de ser dito... Então, ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras... Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Mário Quintana






* tenho dúvidas que esse texto tenha sido mesmo escrito pelo Mário, mas... enfim, quem não compreender este detalhe em falso tampouco merece compreender o todo imperfeito.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pien' d'umanità in fondo all'anima



Já contei aqui que Gabriel's Oboe, a composição de Ennio Morricone para a trilha sonora do filme A Missão (The Mission, 1986) é a música que mais amo na vida.

Originalmente instrumental, Gabriel's Oboe, não foi composta para ser cantada, mas após insistente solicitação, a cantora Sarah Brightman conseguiu a autorização do maestro Morricone para incluir em seu repertório uma versão com letras, criada especialmente para ela pela italiana Chiara Ferraù.

"Nella Fantasia" foi cantada por Brightman pela primeira vez em 1998. Desde então, tornou-se "popular" e está presente no repertório de inúmeros cantores líricos.

Prefiro a versão original, mas gosto desta do vídeo, cantada por Paul Pottes, finalista do primeiro Britain's Got Talent, em 2007.
"Em minha fantasia/eu vejo um mundo claro/onde a cada noite há menos escuridão/sonho com almas livres/como as nuvens que flutuam/ plenas de humanidade/Na minha fantasia existe um vento quente/que sopra na cidade/como um amigo/cheio de humanidade/no fundo da alma."




* e o vento quente que sopra na cidade como um amigo, cheio de humanidade no fundo da alma é você, meu caro John-John.

Antes de morrer eu quero


[X] aceitar a mim mesma, profunda e totalmente


(mas amar e ser amada já tá de bom tamanho)




"Quem ensinar os homens a morrer os ensinará a viver". Montaigne




* Na mesma onda dos livros com títulos "coisas para fazer antes de morrer", o projeto urbano interativo "Before I die",  mostrado nas fotos, mobilizou a cidade de New Orleans, já tão sensibilizada após a passagem do furacão Katrina. Um pouco mais além, o site Before I die I want to,  convida seus participantes a registrarem, em foto polaroid legendada, o que querem fazer antes de morrer. Os idealizadores do site se comprometem a conferir em cinco, dez, quinze anos etc., se os quereres prevaleceram. Que tal? Topa um projeto a longo prazo?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Da paixão cega à cegueira voluntária



"Todo ser humano necessita despertar desejo. Quando as pessoas nos olham e não nos diferenciam de uma cadeira, a coisa vai mal. Isso acontece muito nos casamentos. Os dois seguem se amando, mas já estão há tanto tempo juntos que não faz mais diferença se a mulher embarangou ou se o marido perdeu os dois dentes da frente: "amo você de qualquer jeito, bem". Ama, sem dúvida. Mas não enxerga mais. É aí que mora o perigo. Homens e mulheres precisam de um espelho que lhes diga constantemente o quanto são interessantes e atraentes. Se o espelho rachou em casa e não reflete mais nada, das duas uma: ou a gente se entrega ao desleixo, ou vai buscar reflexos de si mesmo em outro alguém..."


Martha Medeiros



 

* na ilustração, Eros e Psiquê, o casal que personifica o desejo e os ritos de passagem necessários até alcançarmos a maturidade do amor...

Touch


  • encantada com este vídeo! 
  • (que vem a ser um comercial japonês - mais um - de lançamento de um aparelho de telefone celular com capinha charmosa em madeira)
  • chamaram os mais criativos, competentes e pacientes japas para criarem um xilofone gigante e o montaram no meio da floresta, somente para o filme
  • ao que consta, o som (Jesus, alegria dos homens da cantata nº 147 de Bach) é real, ou seja, não foi editado após as imagens
  • o projeto levou 4 dias para ser filmado.

  • [queria mesmo era saber o tempo necessário para: 
  • os verdes da floresta chegarem a estes tons
  • pra água correr entre as pedras do rio
  • para a pequena corça acordar
  • para Bach perceber que sua canção estava pronta]



*







* dedicado ao amigo Claudio W., que muito antes de ser publicitário, é japa, o que o torna ainda mais dedicado, competente e criativo.

domingo, 3 de abril de 2011

Intensa


O meu mundo não é como o dos outros,
Quero demais, exijo demais,
Há em mim uma sede de infinito,
Uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,
Pois estou longe de ser uma pessimista;
Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada.
Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...
sei lá de quê!


Florbela Espanca (1894-1930)




* imagem: Salvador Dali, Le phénomène de l’extase

sábado, 2 de abril de 2011

Da inutilidade da literatura


"A literatura não serve para ensinar (embora noventa por cento das pessoas que escrevem para crianças pensem que sim). Contrariando muitos conceitos, a boa literatura serve mesmo é para desensinar, para desaprender, para abalar critérios e conhecimentos adquiridos. Claro que é importante ensinar e melhor ainda, aprender; mas essa não é a função da literatura. A literatura serve sobretudo - se é que serve para alguma coisa - para lidarmos com o desconhecido: o amor e a morte.  E se pararmos para analisar, a maioria das histórias são sobre o amor ou sobre o amor e a morte. E são destas que mais gostamos de ler.”




* excerto de uma entrevista do escritor português, Álvaro Magalhães. Tela de Monet.