quinta-feira, 31 de março de 2011

Pálido ponto azul


"Desse ponto de vista distante, a Terra pode não parecer de interesse particular. Mas para nós, é diferente. Olhe novamente para esse ponto. Esse ponto é aqui, nosso lar. Nesse ponto todos as pessoas que você conhece, todos aqueles dos quais você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveu a vida deles. O conjunto de todas as nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e suas presas, todos os heróis e covardes, todos os criadores e destruidores de civilizações, todos os reis e plebeus, todos os casais apaixonados, todas as mães e pais, todas as crianças esperançosas, todos os inventores e exploradores, todos os professores de moral, todos os políticos corruptos, todas as celebridades, todos os líderes supremos, todos os santos e pecadores na história de nossa espécie, viveram aqui - nessa partícula de poeira suspensa num raio de luz.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados pelos imperadores e generais para que, num momento de glória e triunfo, pudessem se tornar mestres de apenas um pedaço desse ponto. Pense nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus frequentes conflitos, como eles estão ansiosos para matar um ao outro, com seu ódio ardente.

Nossa postura, nossa pretensa importância, a ilusão de que vivemos em um lugar privilegiado do Universo, tudo isso é colocado em cheque por esse pálido ponto de luz. Nosso planeta é apenas uma partícula cercada cosmicamente por um vasto e escuro Universo. Diante de nossa obscuridão, em toda essa vastidão, não há o menor indício de alguém venha nos ajudar e nos salvar de nós mesmos.

Até agora, a Terra é o único planeta capaz de suportar a vida. Não há nenhum outro, pelo menos num futuro próximo, para o qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez. Assentar, ainda não. Goste ou não, por enquanto a Terra é o que temos.

Dizem que a Astronomia é uma experiência humilde e fortalecedora. Talvez não haja melhor exemplo das tolices dos conceitos humanos que essa minúscula imagem do nosso mundo. Para mim, ela sublinha a responsabilidade de nos relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos."
 



*






* clássico texto do cientista e astrônomo Carl Sagan, falecido em 1996. Sei que é um pouco antiguinho e manjado, mas isso não tira sua beleza ou o torna menos atual. Nunca me canso de lê-lo. Detalhe: a voz que narra o vídeo é do próprio Sagan. (John-John, ele de novo e sempre ele, foi quem primeiro me apresentou vídeo e texto)

Sobre Fidelidade, Privacidade e Autoestima


A belíssima atriz italiana, Monica Bellucci, deu a receita de seu casamento feliz e duradouro com o ator francês, Vincent Cassel:
"Deixo-o solto. Não sei fazer a esposa grudenta e ciumenta. Procuro não alimentar expectativas nem ilusões. Para mim existem valores mais importantes a se cultivar no casamento do que a fidelidade, como respeito e companheirismo. Acho simplesmente ridículo perguntar para o Vincent o que ele fez enquanto esteve fora."
...
  • assuntinho controverso, não?
  • mas acho interessante a reflexão...
  • afinal, quem dita as regras do seu relacionamento?
  • ora, cada um é feliz a sua maneira
  • e respeito à privacidade do/a companheiro/a é o caminho mais fácil - e lindo - para a felicidade a dois.
  • Nesta declaração, Monica não só mostra incrível força interior e confiança, como revela o que pode ser o grande segredo de sua beleza estoante
  • imagina só de quantas rugas ela já poupou sua linda face simplesmente por não alimentar a atitude suicida de tentar controlar a fidelidade masculina!
  • como diria minha amiga Ivi, autoestima é tudo na vida...

É muita autoestima, não é meu povo?

Depois da tempestade...

Como toda tragédia com suas imagens impressionantes e assustadoras, a catástrofe no Japão não foi exceção.

Em reação, ilustradores de todos as partes do mundo se reuniram em um esforço criativo para equilibrar tanto caos. O resultado (incrível) de pura beleza está sendo colecionado por este site francês. 

Vale a visita, é uma ilustração mais bonita que a outra e o acervo cresce todos os dias!


  • E já está marcado para 30 de abril um leilão (em Paris, na Galerie Arludik) com todos os postêres inscritos no site, em benefício das vítimas do tsunami japonês.

quarta-feira, 30 de março de 2011

It's all about passion


  • Um dos melhores discursos que já ouvi (sou fã de discursos, lembra?)
  • Isabel Allende hipnotiza a audiência com seu bom humor, inteligência e domínio de linguagem
  • e lança nova visão sobre a questão feminina no mundo.
  • Se for mulher, não perca este vídeo.
  • Se for homem, também!
...


* se preferir, acesse a versão legendada, clicando em View Subtitles, no canto esquerdo inferior do vídeo. TED (Technology, Entertainment and Design) é uma conferência anual com a missão de divulgar idéias que valem a pena (ideas worth spreading). As palestras, chamadas de TED Talks falam de ciência, artes, design, política, negócios, assuntos mundiais, tecnologia, desenvolvimento e entretenimento.

Elizabeth Taylor em 3 X 4

Três tópicos, quatro imagens + uma música para Elizabeth Taylor, a atriz inglesa que faleceu na semana passada, aos 79 anos:
Dormindo, ao lado de James Dean, no set de Assim Caminha a Humanidade, 1956

Liz Taylor foi a encarnação mais concreta de um conceito abstrato: a estrela de cinema. Com uma beleza sobre-humana, sabia atuar, escolhia bem os filmes e a nunca fez da fama um fardo. A combinação desses fatores, entretanto, acabou por atrapalhar o reconhecimento de Liz como a grande atriz que foi. Ao arrastar multidões aos cinemas com seu carisma, a atriz ajudou a popularizar textos de grandes autores. O sujeito ia ao cinema ver a beleza de Taylor e acabava trombando com aqueles personagens densos dos dramas psicológicos de Tennessee Williams ou Edward Albee.

Com David Bowie, em 1976


"Para sempre serei castigado pelos deuses por ter recebido a dádiva do fogo e tê-lo desperdiçado.O fogo, claro, é você." escreveu Richard Burton para a então, ex-esposa, em 1973, à época de sua primeira separação.


Como na fotografia à moda antiga, tudo que é superexposto queima (tudo que é fogo queima também). Mas Liz não queimou. "Ela era tão bonita que ninguém nunca notou o quanto era cafona. À medida que o tempo foi passando, seus penteados e suas roupas representavam o suprassumo da breguice. Mas sua beleza era tão grande que ela podia se permitir esse luxo..." (Tão bela, tão brega, Danuza Leão, Folha de São Paulo, 27/03/11).
+

The shadow of your smile, canção tema do filme Adeus às Ilusões (Sandpiper, 1965)

terça-feira, 29 de março de 2011

Para o amigo que partiu


John-John, my dearest,
cheguei atrasada ao teu enterro (as always)
e não pude oferecer-te minha derradeira homenagem.

[percebeste minha falta?
tenho estado contigo tanto e há tanto!]

Senti, especialmente, não ter teu abraço.
E ainda agora é por teu abraço
teu abraço, teu abraço
que eu choro sem cansaço.

Eu chegaria (as always) acelarada,
com um tropel insano de pensamentos
desfocando meus sentidos
e tu, à minha espera (as always),
sem dizer palavra me abraçaria.

E no teu abraço
teu abraço, teu abraço
(as always)
minha angústia cessaria.

No teu abraço,
como um sopro estival,
sentiria primeiro o perfume antigo,
do tipo que não se vende mais.
E ainda o cheiro de sol,
de areia da praia e de peixes
recém saídos do mar.
E o suor do teu esforço
para tirá-los de lá.

E no teu abraço
teu abraço, teu abraço
(as always)
John-John, my only,
eu saberia que tudo posso,
e que a vida faz sentido
quando se sente no peito
o calor de outro peito
batendo de puro amor.

Foste; mas não levaste nada,
os dias e as noites,
a vida e a morte
 - o Tao -
"Tudo permanece
e passa
é contínuo
e nunca mais é o mesmo"
(sem ti).

Quanto devo permancer?
Quanto ainda devo passar
até me reencontrar no teu abraço

- feito concha onde descansa a pérola -

forever




* João Batista Correia, meu mestre-amigo, faleceu no outono de 2010. Este poema homenagem vem sendo escrito desde então. Nunca termina, nunca é o suficiente... e meus braços sempre pendem nas últimas estrofes, inertes, sem apoio. Mas é chegado o outono. Talvez seja a hora... não sei - desde então não tenho mais certezas. (Já a composição Gabriel's Oboe, de Ennio Morricone, para a trilha do filme A Missão, é a obra mais bem acabada, mais perfeita e plena de humanidade e vida que já ouvi - a música que mais amo para o amigo mais amado.) 

segunda-feira, 28 de março de 2011

A beleza que nos escapa

  • La Blogotheque é um coletivo francês dedicado a música
  • semanalmente uma banda ou artista é convidado para tocar nas ruas, em um bar, parque, ou num apartamento ou elevador
  • toda sessão é filmada e sem edições mirabolantes vai pro ar
  • o som fica cru, os defeitos aparentes (perfeitamente impecáveis)
  • e o espontâneo une-se ao enorme talento dos músicos para dar todo o tom do Show - com S maiúsculo!
  • com vocês, Aloe Blacc:


  • com essa música, músicos e cantor incríveis, ainda assim, há quem não pare sequer dois minutinhos para apreciar a canção até o final
  • (a não ser que sejamos atletas olímpicos, o que são dois minutos na vida, gente?)
  • ... daí que desenredou-se o fio da memória e lembrei desta experiência inédita e provocante:
  • Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, em uma estção do metrô, em Washington, despertando pouca ou nenhuma atenção
  • a iniciativa, do jornal The Washington Post, lançou um debate, no ano de 2007, sobre arte e beleza
  • que a cronista gaúcha Martha Medeiros, destrinchou, com maestria: 

O Violonista no Metrô
"Aconteceu em janeiro. O jornal The Washington Post convidou um dos maiores violinistas do mundo, Joshua Bell, para tocar numa estação de metrô da capital americana a fim de testar a reação dos transeuntes. Desafio aceito, lá foi Bell, de jeans e camiseta, às oito da manhã, o horário mais movimentado da estação, para tocar melodias de Bach e Schubert no seu Stradivarius de 1713 (avaliado em 3,5 milhões de dólares).

Passaram por ele 1.097 pessoas. Sete pararam alguns minutos para ouvi-lo. Vinte e sete largaram algumas moedas. E uma única mulher o reconheceu, porque havia estado em um de seus concertos, cujo valor médio do ingresso é US$ 100. Todos os outros usuários do metrô estavam com pressa demais para perceber que ali, a dois metros de distância, tocava um instrumentista clássico respeitado internacionalmente.

Não me surpreende. Vasos da dinastia Ching, de valor incalculável, seriam considerados quinquilharias se misturados a quaisquer outros numa feira de artesanato ao ar livre. Uma jóia do Antonio Bernardo correria risco de ser ignorada se fosse exposta numa lojinha de bijuterias, uma gravura de Roy Lichtenstein seria considerada amadora se exposta numa mostra universitária de cartoons e ninguém pagaria mais de R$ 40 por uma escultura do mestre Aleijadinho que estivesse misturada a anjos de gesso vendidos em beira de estrada.

Desinformados, raramente conseguimos destacar o raro do medíocre. Só é possível valorizar aquilo que foi estudado e percebido em sua grandeza. Se não me informo sobre o valor histórico de uma moeda que circulava na época dos otomanos, ela passa a ser apenas uma pequena esfera enferrujada que eu não juntaria do chão. Se não conheço o significado que teve uma muralha para a defesa dos grandes impérios, ela vira apenas um muro passível de pichação. Se não reconheço certos traços artísticos, um vitral de Chagall passará tão despercebido como o vitral de um banheiro de restaurante.

Podemos viver muito bem sem cultura, mas a vida perde em encantamento. Essa história do violinista demonstra que não estamos preparados para a beleza pura: é preciso um mínimo de conhecimento para valorizá-la. E demonstra também que temos sido treinados para gostar do que todo mundo conhece. Se uma atriz é muito comentada, se uma peça é muito badalada, se uma música é muito tocada no rádio, estabelece-se que elas são um sucesso e ninguém questiona. São consumidas mais pela insistência do que pela competência, enquanto competentes sem holofotes passam despercebidos.

Gostaria muito de ter circulado pela estação em que tocava Joshua Bell. Não por admirá-lo: pra ser franca, nunca ouvi falar desse cara. O que eu queria era testar minha capacidade de ficar extasiada sem estímulo prévio. Descobrir se ainda consigo destacar o raro sem que ninguém o anuncie. Tenho a impressão de que eu pararia para escutá-lo, mas talvez esteja sendo otimista. Vai ver eu também passaria apressada, sem me dar conta do tamanho do meu atraso."
 

*






 Aloe Blacc, o cantor do metrô, é norte-americano, mas vive na França, assim como os músicos que o acompanham. Achou que ele é um mais um aspirante a cantor à procura de fama e visibilidade com o auxílio da web? Então dá uma olhadinha no que ele cometeu no programa do Jools Holland: Paul McCartney, na platéia, não resiste ao suíngue e aparece dando umas pescoçadas, pra lá e pra cá. Alice CooperNeil Young, ao lado, acompanham o ritmo batendo palmas... definitivamente, não é qualquer um. ** A experiência do The Washington Post foi inteiramente gravada e compilada em dois minutos, neste vídeo do youtube.

A literatura é o catálogo das vidas possíveis


"Isso é parte da beleza de toda a literatura. Você descobre que seus desejos são desejos universais, que você não está sozinho e isolado de qualquer um. Você pertence ".


F. Scott Fitzgerald



* a frase do título é de Contardo Calligaris

Insônia

"Insônia é o termo glamuroso que damos para os pensamentos que esquecemos ou não tivemos tempo de pensar durante o dia".

Alain de Botton
* ou são pensamentos que preferimos esconder dentro dos armários, debaixo da cama, atrás das cortinas e que nos assombram à noite, afugentando a paz? 

domingo, 27 de março de 2011

O privilégio de ser aquele que nascemos para ser



"Se você tinha que ser um dançarino, a vida virá por aquela porta, porque ela pensa que você é um dançarino. Ela bate na porta, mas você não está lá; você é um bancário. E como a vida vai saber que você se tornou um bancário? Deus vem a você da maneira que ele quer que você seja; ele conhece apenas aquele endereço. Mas você nunca é encontrado lá, você está sempre em algum outro lugar, escondendo-se atrás da máscara de alguém que não é você, com os trajes de alguém que não é você e usando o nome de alguém que não é você. Como você espera que Deus possa encontrá-lo? Ele segue procurando por você. Ele sabe o seu nome, mas você abandonou aquele nome. Ele conhece o seu endereço, mas você nunca morou lá. Você permitiu que o mundo desviasse você".
Osho



"Siga a sua bem-aventurança, lá onde há um profundo sentido do seu ser, lá onde seu corpo e sua alma querem ir. Quando tiver essa sensação, quando encontrar a paixão da sua vida, siga-a! Siga o caminho que não é caminho fique aí e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar. Portas se abrirão onde antes não havia portas e você sequer imaginava que pudesse haver. O privilégio de toda uma vida é ser aquele que nascemos para ser."

Joseph Campbell


"Toda a história da revelação judaico-cristã é um aprendizado do diálogo entre Deus e o homem. Deus aquece o coração daquele que Ele chama, ilumina a sua inteligência, mas jamais se substitui à consciência e à sua liberdade. Para Deus, criar é chamar cada um de nós pelo seu nome. O homem só é completamente ele mesmo, só descobre sua verdadeira identidade ao responder livremente ao seu apelo. Um dos maiores sofrimentos do homem é ter de viver sem descobrir um sentido para sua vida, é ter de se resignar ao absurdo da existência, ter a impressão de que é um sopro efêmero e inútil, que não serve para nada e que ninguém tem necessidade dele. Encontrar a sua "vocação" é encontrar a felicidade e a paz interior.

M. Hubait


A vida é muito curta para se perder no emprego errado. Este é o conceito do comercial para o Jobsintown.de, site alemão de empregos (não é necessário dominar o idioma para entender):



* em minha educação católica, sempre fui instigada pelo trecho bíblico que afirma que Deus nos chama pelo nome para realizarmos a nossa verdade (vocação, bem-aventurança, natureza, essência ou como queira chamar). Ao longo da vida fui descobrindo outros textos, de origens diversas do cristianismo, que tratam do mesmo tema - o que me suscita ainda mais encanto! - porque o assunto não esmorece, mesmo quando chegamos a uma fase da vida onde acreditamos já ter encontrado o caminho...

domingo, 20 de março de 2011

A lição do Pinguim


  • com pernas (?) curtas, sem mãos e com asas no lugar de braços, ele não pensou que era impossível
  • foi lá e fez*!
  • (mas repara que o destino deu um empurrãozinho - para baixo!
  • e que só depois do escorregão - irremediável - foi que o fofo decidiu-se por pular...
  • e não é bem assim que acontece? A gente só se mexe quando a água começa a bater, é ou não é?)  
  • em tempo: o pinguim e o vídeo são da África do Sul, mais precisamente, Boulders Beach.



* frase atribuída a Jean Cocteau

O amor [também] é... côncavo!





*porque começa a esfriar e dormir assim, "de conchinha", volta a ser uma das sete maravilhas do mundo!

sábado, 19 de março de 2011

Aprender a morrer


"Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade.
Quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir.
Nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal. 
Saber morrer nos exime de toda a sujeição e constrangimento.
Filosofar é aprender a morrer."

Michel Eyquem de Montaigne, 1533-1592.

quinta-feira, 17 de março de 2011

As folhas de grama, a poeira das estrelas, as cinzas das chamas..

"Creio que uma folha de grama não é menos
que a estrada que atravessa as estrelas.
E que a formiga é perfeita.
E assim são os grãos de areia
e os ovos do arenque.
E que as abelhas são uma obra prima, digna dos melhores artistas.
E que as amoras poderiam enfeitar as estradas do paraíso.
E que a menor articulação da minha mão
é capaz de humilhar todas as máquinas.
E que uma vaca pastando com a cabeça baixa,
supera todas as estátuas.
E que um rato é um milagre
capaz de surpreender milhões de descrentes.

Esta é uma canção de amor e respeito
a maior de todas as maravilhas, que é a vida.

E assim também eu creio."

Walt Whitman


  • Para ler enquanto se desenrolam algumas das inacreditáveis imagens feitas pelo telescópio espacial Hubble;
  • a trilha é Across the Universe, composta por John Lennon, para os Beatles, em 1967.
  • (Em entrevista para a revista Rolling Stone, em 1970, Lennon se referiu a esta composição como a mais lírica, a mais poética que ele escreveu.)

  • "luzes dançam diante de mim/amor eterno sem limite que brilha ao meu redor/como um milhão de sóis/elas me chamam através do universo" 


* [thinking about Japan]: Para aqueles que ainda se espantam com a força, o poder e a grandiosidade da natureza. Para os que duvidam da sua perfeição. Para os que acreditam no fim - nothing is gonna change our world. Ou, como um dia escreveu Whitman "nada está perdido ou pode ser perdido, as cinzas deixadas pelas chamas passadas... arderão de novo."

quarta-feira, 16 de março de 2011

DNA


Há livros que me construíram e que são parte de mim. Se eu pudesse fazer uma tomografia literária (caso o equipamento existisse), seria possível ver, volume após volume, página após página, o conteúdo de cada um dos livros que li, de alguma forma transmutado e transformado em mim. Jack London. Sommerset Maughan. Guy de Maupassant. Neil Gaiman. Alice Walker. Gabriel Garcia Marques. Fernando Sabino. Florbela Espanca. Paulo Leminsky. Edgar Allan Poe. Anne Rice. Fernando Lugones. Isaac Bashevis Singer. Adélia Prado. Joseph Campbell. Quino. E se os livros que li ajudaram a me formar, tranquilamente posso afirmar que ninguém que tenha lido alguma vez, viveu exatamente os mesmos livros, todos os mesmos livros e somente os mesmos livros que eu. Assim como os meus genes (e a alma dentro de mim) são exclusivamente meus, sou a soma original dos livros que eu li - e estes são meu DNA literário.

O lugar em que temos razão


Do lugar em que temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um campo de guerra.
Mas dúvidas e amores
escavam túneis,
e respiram nos subterrâneos.
E um sussurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.



Yehuda Amichai




* dedicado aos que foram arrancados de seus lares - por catástrofes naturais, guerras, desordens familiares ou tragédias pessoais - ao fim e ao fundo, tudo a mesma desolação...

terça-feira, 15 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

Se o Pato Donald cantasse

... e fosse mulher?


...não seria problema algum!

Manicure...

  • bem do jeitinho que eu faço - não fica uma pontinha de unha aparecendo!

  • (só não entendo porque meus filhos não suportam que eu corte as unhas deles...) 




* ilustração, Ana Oliveira.

domingo, 13 de março de 2011

O zen e a arte de pedalar bicicletas

UM MESTRE ZEN viu cinco dos seus discípulos voltando das compras, pedalando suas bicicletas. Quando eles chegaram ao monastério, o mestre perguntou aos estudantes: "Por que vocês andam com suas bicicletas?"

O primeiro discípulo disse: "A bicicleta carrega, para mim, os sacos de batatas. Estou feliz por não ter de carregá-los em minhas costas!" O mestre elogiou o primeiro aluno: "Você é um rapaz muito inteligente! Quando você crescer você não andará curvo como eu ando."

O segundo discípulo disse: "Eu adoro ver as árvores e os campos por onde passo!" O mestre elogiou o segundo discípulo: "Seus olhos estão abertos e você enxergará o mundo."

O terceiro discípulo disse:"Quando eu pedalo minha bicicleta eu fico feliz em recitar Nam-myoho-rengue-kyo (sutra do lótus)". O mestre louvou o terceiro estudante: "Sua mente se expandirá com a suavidade de uma roda novamente centrada."

O quarto discípulo falou: "Pedalando minha bicicleta eu vivo em harmonia com todas os seres sensíveis."O mestre ficou feliz e disse ao quarto estudante: "Você pedala no caminho dourado do bondade."

O quinto aluno disse: "Eu pedalo minha bicicleta por pedalar". O mestre sentou-se aos pés do quinto estudante e disse: "Eu sou seu discípulo."



* porque os dois posts anteriores remeteram-me à esta fábula; porque esta fábula me remete ao livro de Robert Pirsig, O zen e a arte da manutenção de motocicletas que comecei a ler em 1984 e nunca mais terminei (porque continua sendo lido por mim, ad infinitun); porque acabei de saber do novo filme (Corpos Celestes) do amigo e diretor Marcos Jorge, que foi meu colega de faculdade e quem primeiro me falou de Pirsig; porque foi outro amigo, John-John - este um verdadeiro mestre que se foi e só deixou saudades e não lacunas, pois viveu sua vida plenamente e a preencheu de ensinamentos - que é quem me ajuda, ad infinitun, a entender o significado de tudo isto...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Da Série Verdades Indissolúveis: o Antes sempre do Depois


Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.

Mário Quintana




* 1º porque tudo tem seu tempo; 2º porque Quintana é mestre neste tema e 3º porque considero que Mister Eastwood tem um before and after autoexplicativo...

terça-feira, 8 de março de 2011

"Quero metade infância e outra metade velhice:

Criança, para que eu não esqueça o valor do vento no rosto e velho, para que eu nunca tenha pressa."


  • olha só que beleza este filminho/comercial da Honda, veiculado no Japão
  • (em japonês - e nem precisa legenda: a linguagem da emoção é universal! )



* dedicado a meu marido, R., que viveu a contracultura; sonhou em ser Peter Fonda em Easy Rider e permanece hippie no corpo e na alma - e cabelos! Frase do título e cabeçalho, Oscar Wilde. 

Agora que o carnaval acabou...



  • fico mais à vontade para sugerir outros ritmos,
  • como esta versão demo de You Only Live Once, dos Strokes,
  • que está na trilha de Somewhere, o último filme de Sofia Coppola
  • e eu não canso de ouvir... 

domingo, 6 de março de 2011

Madassa



Madassa não sabia ler nem escrever.
Madassa tinha a idade que as crianças têm quando sabem ler e escrever.
Mas Madassa não sabia ler nem escrever.
Na cabeça de Madassa não havia lugar para palavras.

Na cabeça de Madassa habitava apenas o medo, escuro e negro, causado pelos barulhos da guerra, e pelos mortos, muitos mortos.
Na cabeça de Madassa vivia uma raiva imensa cheia de porquês.
Como se as perguntas fossem garras dilacerantes.
Na cabeça de Madassa pairava um nevoeiro de tristeza.
Tão espesso que ele não conseguia lembrar-se sequer da cara do irmão ou da irmã, cujo paradeiro ninguém conhecia.

Havia dias em que, na cabeça de Madassa morava a mesma fome que lhe enchia o ventre.
A negrura do medo, as garras da raiva, o nevoeiro da tristeza
– e, em certos dias, a fome – ocupavam toda a cabeça de Madassa.
Na cabeça de Madassa não havia lugar para as palavras.

A professora já não sabia o que fazer para ajudar Madassa.
Quando tinha tempo, lia-lhe histórias que ele sozinho não conseguia ler.
Lia-lhe a história do Pequeno Polegar, que tivera tanto medo na floresta.
E o medo do Polegarzinho passeava pela cabeça de Madassa.
Lia-lhe a história de Martinho, que estava sempre irritado.
E a irritação do rapaz era igual à que existia na cabeça de Madassa.
Lia-lhe a história da Menina dos Fósforos.
E a tristeza da Menina chorava na cabeça de Madassa.
A professora contava-lhe também a história de Pedro e a Lua, do menino que queria fazer florir a terra inteira com plumas de pássaro.
E as plumas dançavam na cabeça de Madassa.

E, entretanto, o que acontecia na cabeça de Madassa?
O medo do Polegarzinho deixava palavras para exprimir o medo.
A raiva de Martinho deixava palavras para exprimir a raiva.
A tristeza da Menina dos Fósforos deixava palavras para exprimir a tristeza.
A dança das palavras de Pedro e a Lua deixava palavras que davam vontade de dançar.

Certa manhã, as palavras, fortemente agitadas, não quiseram ficar na cabeça de Madassa.
Então, o menino pegou num caderno, numa caneta, e,
embora desajeitadamente, como uma criança que aprende a andar, escreveu:

Madassa medo
Madassa raiva
Madassa tristeza
Madassa no capim
Madassa ao vento
Madassa na água
Madassa cinzento preto azul
Madassa vermelho amarelo preto
Madassa cinzento amarelo verde
Madassa galo tigre
Madassa sol

─ Um poema! exclamou a professora.
─ Escreveste um poema!

Então escrever é isto!
Pegar nas palavras das histórias e transformá-las nas palavras de Madassa.
Mas é preciso ler muitas histórias para ter muitas palavras.

Madassa começou a ler.
E a escrever também.
Quanto mais lia, mais escrevia.
Quanto mais escrevia, mais vontade tinha de ler.
Era um círculo mágico.

Madassa que não sabia ler nem escrever,
enchia agora cadernos e mais cadernos.
Talvez um dia escrevesse um livro.

Madassa escritor.


(Michel Séonnet)

...


* para meu filho T., pois mesmo com a idade que as crianças têm quando sabem ler e escrever, ainda não sabe ler nem escrever. Quero acreditar que ainda não há lugar para palavras em sua cabeça. E sigo esperando que um dia, as palavras não queiram ficar mais na cabeça de T. e tomem vida no lugar que é delas. Afinal, nesta casa, há sempre tempo para as histórias...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cathy



Caterina, minha sobrinha metade brasileira/mezzo italiana, tem cabelos dourados, olhinhos de índia, pele de inglesinha (mas com um pezinho na Bahia!) e um je ne sais quois francês (o charme e a beleza vieram da mãe, mesmo).
Como só a vejo uma vez por ano, nesse grande intervalo onde a saudade aperta, a imaginação faz meus olhos acreditarem que todas as outras meninas se parecem com ela. Então, por alguns minutos, meu coração se aquece e o sorriso acende: "- É ela, é ela", suspiro  "- olha que coisiquinha mais fofutcha da titia!"

  • Na aula de ballet, exibindo todo seu talento cômico:

  • Falando francês e esbanjando seus conhecimentos em zoologia:

  • Mostrando coragem e despudor impressionantes para uma garotinha (o vídeo foi desabilitado pelo youtube: encontrei-o neste link aqui).


*






* tão precoce e toda essa desenvoltura... herança da tia, certamente!

Da Série Absurdos da Vida



Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe. (Oscar Wilde)

 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Epígrafe

"Não me vistam de preto: é triste e fúnebre. Nem me vistam de branco porque é soberbo e retórico. Vistam-me de flores amarelas e vermelhas e com asas de passarinho. E Tu, Senhor, olhe minhas mãos. Talvez tenham colocado um rosário, talvez uma cruz. Mas se enganaram. Nas mãos tenho folhas verdes e sobre a cruz, a tua ressurreição. E sobre minha tumba não coloquem mármore frio com as costumeiras mentiras para consolar os vivos. Deixem que a terra escreva, na primavera, uma epígrafe de ervas. Ali se dirá que vivi e que espero. Então, Senhor, tu escreverás o teu nome e o meu, unidos como duas pétalas de papoulas".


* Adriana Zarri, teóloga e escritora italiana, falecida em novembo de 2010, aos 90 anos de idade. Texto traduzido por Leonardo Boff.

terça-feira, 1 de março de 2011

É não é que



... já no primeiro dia de março a chuva chegou anunciando o fim do verão
  • o fim da canseira, 
  • a lama, a lama... 
  • e uma promessa de vida no meu coração!

Close to you - só para iniciados!

Ainda com Close to You intermitente na cabeça, descobri no infinito youtube uma espécie de versão X-rated da música, interpretada por Barbra Streisand em duo com Burt Bacharach ao piano.

O ano é 1971. Barbra, então com 28, mostra o seu melhor: a voz estrilante de tão cristalina; a explosão de feminilidade e a naturalidade com que domina o ofício.

(olha, nem perde tempo com essa introdução, dá logo um play nervoso aí no vídeo e comprova: sensualidade à flor da pele...)



achei hot!